terça-feira, 29 de julho de 2014

The Alphabet in the Park



"Compared to my heart's desire/ the sea is a drop."

Adélia Prado's poetry is a poetry of abundance. These poems overflow whith the humble, grand, various stuff of daily life - necklaces, bicycles, fish; saints and prostitutes and presidents; innumerable chickens and musical instruments. There is a lot of the color yellow here, and almost as much mathematics. And, seemingly at every turn, there is food.

I first met Adélia Prado in 1985, in her chicken in Divinópolis. Ever since stubling on a sever-line poem by her in a obscure Brazilian literary magazine, I had been wanting to sit across a table from his woman and talk about my translating the rage and delight of her poetry into English. When, years later, I arrived on her doorstep, manuscript of translations in hand, and bluterd that I was famished, she was visibly pleased - the only other North American she had met had refused to eat a thing - and sat me down to a huge meal of beans and rice whith all the trimmings. Appetite is crucial to Prado:

Forty years old: I don't want a knife
or even cheese - 
I want hunger.

This poet cooks, eats, chews memoris, confesses to gluttony: "I nibble vegetables as if they were carnal encounters."

Sexual hunger is admitted as frankly as any other. We see a woman tempted by "the vibrations of the flesh," by "the precise configuration of lips," who listens "most closely to the voice that is impassioned," a "woman startled by sex,/ but delighted."

There is an abundance of dark things also. There are "drowning victms, chopping blocks,/ forged signatures." There is cncer. There are moments of quiet desesperation:

What thick rope, what a ful pail,
what a fat sheaf of bad things.
What an incoherent life is mine,
what dirty sand.

The appeal of these poems has to do with their wonderful specificity, their neckedness, their desire to embrece neverything  in sight - as well as things invisible. Here is a "creature of the body" who experiences great spiritual craving, ho believes that spirit is almost as palpable. (...)

Ellen Watson

segunda-feira, 21 de julho de 2014

O sempre amor - CD



Litores, trago a vocês o CD Adélia Prado: o sempre amor, gravado entre abril de 2001 e setembro de 2002 pelo selo da produtora Karmim. A escolha dos textos ficou por conta da própria Adélia, que reuniu poemas de  cinco dos seus livros de poesia publicados naquela época: Bagagem (1976), Terra de Santa Cruz (1981), O Pelicano (1987) a Faca no peito (1988) e Coração disparado (1978), ficando de fora apenas o Oráculos de maio (1999). A criação da trilha sonora e a direção musical ficou sob responsabilidade de Mauro Rodrigues e a idealização do projeto é de Carminha Guerra. Ainda que seja um trabalho maravilhoso, o CD dificilmente pode ser encontrado para a venda! Deixo com vocês uma faixa de presente (Amor feinho). Até a próxima!


sábado, 12 de julho de 2014

Vida Doida - Cartões postais


COLEÇÃO PALAVRA E ARTE 
Unir o trajeto de linhas às palavras, confrontar a riqueza das cores aos poemas, preservando a individualidade de cada artista, esse foi o desafio assumido pela Editora Alegoria ao desenvolver a Coleção Palavra e Arte. 
Mais do que prosa e poesia, optamos por produzir a união entre a inspiração plástica e a literária, a partir do desenvolvimento de um tema escolhido por escritores e ilustrado por artistas, imprimindo a força da criatividade de profissionais contemporâneos. 
Resultado de temperamentos díspares, essa associação  é oferecida em cartões postais, constituindo-se em instrumentos de difusão desta arte. Pois, como dizia Mário de Andrade: "Arte é, antes de mais nada, um meio de o homem expressar-se livremente para consolar, para elevar, para se comunicar. (...) Arte se faz com vida e liberdade". 
A Arte - essa transgressão da natureza - é para ser compartilhada. Um mundo que difunde sua cultura é um mundo que não compactua com o preconceito. É o mundo que buscamos através de nosso trabalho. 
Editora Alegoria

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Adélia Prado: uma entrevista


Esta entrevista, concedida em Divinópolis, a 3 de fevereiro de 1995, foi feita originalmente para um número especial da revista espanhola El Urogallo (n° 110/111, Julho-Agosto de 1995), dedicado a artistas mulheres brasileiras. A versão publicada na revista é bastante condensada (cerca de 6 laudas). O texto que se segue é praticamente a transcrição integral da entrevista, editada apenas para evitar os excessos de coloquialismo. A entrevista foi realizada pelo professor Antonio Herculano Lopes, pesquisador da Fundação Casa de Rui Barbosa, ator e diretor de teatro.

AH: Adélia Prado por Adélia Prado 
AP: Eu nasci aqui mesmo em Divinópolias em 35, sou filha de um ferroviário e de mamãe da casa, do lar, doméstica, sou a mais velha de oito irmão, não há tradição de escritores na minha família, eu comecei a linhagem. [ri] E... era uma vida muito ordinária. De extrema pobreza material, mas assim, muito rica do ponto de vista de relacionamento familiar, humano, uma família muito afetiva. meu pai era muito... pessoa muito calorosa, muito amorosa. Fiz curso primário, ginásio, fiz o curso de professora e mais tarde, quando eu já estava estava casada, com os filhos todos, eu cursei Filosofia. Eu e meu marido fizemos Filosofia. Eu era louca para estudar Filosofia e aparecendo a chance a gente fez. Aqui mesmo em Divinópolis. Nós começamos a faculdade em seu início, muito boa mesmo. Nós tivemos essa sorte de cursar Filosofia. O meu contato com os livros era que eu tinha uma atração pela palavra... pela palavra ritmada, pela Literatura... hoje eu sei que era Literatura o que me encantava.
 AH: Não tem uma história que você primeiro foi música e depois poeta?
 AP: Não, não, não. É porque um personagem meu era música, então todo mundo acha que eu entendo. Não sei nada de música. Meus meninos tocam violão, tocam piano, mas eu não. Eu gostava de decorar as poesias escolares, recitar essas poesias nos auditórios. Em festas cívicas, religiosas, eu estava lá na frente recitando e falando e achando bonito. Meu pai aplaudia muito. Ele sabia poesias de cor. Ele não tinha o curso primário.
AH: Aquele poema que você faz a citação... 
AP: "Recita aquela bonita..." 
 
A POESIA
Recita "Eu tive um cão", depois "Morrer dormir", ele dizia.
Eu recitava toda poderosa.
'Eh trem!' ele falava, guturando a risada, os olhos
amiudados de emoção, e começava a dele:
"Estrela, tu estrela, quando tarde, tarde, bem tarde,
brilhaste e envolveste o teu olhar para o passado,
recordas-te e dirás com saudade: sim, fui mesmo ingrato.
Mas tu lembrarás que a primavera passa e depois volta
e a mocidade passa e não volta mais".
A última palavra, sufocada. O que estava embaçado
eram seus óculos. Ó meu pai, o que me davas então?
Comida que mata a fome e mais outras fomes traz?
Eu hoje faço versos de ingrato ritmo.
Se o ouvisses por certo me dirias com estranheza e amor:
'Isso, Delão, isso!' O bastante para eu comer recompensada.
Agora as boas, pai, agora as boas:
"Eu tive um cão", "Estrela, tu estrela".
"Morrer dormir, jamais termina a vida!",
jamais, jamais, jamais.
Adélia Prado

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Depoimento (Suplemento Literário)


Trago aos leitores mais um emocionante depoimento adeliano sobre a Poesia. O texto quem arranjou foi a  escritora e jornalista Branca Maria de Paula, para o Suplemento Literário de Minas Gerais, no dia 23 de junho de 1984. Segue abaixo sua transcrição. Boa leitura!

Não entendo que a literatura tenha uma função. Não a sinto como categoria utilitária destinada a prestar tal ou qual serviço. Daí meu incômodo e meu desgosto com a chamada literatura engajada, uma contradição já em termos. A palavra, quando intenciona um resultado prático, uma ação, virá discursivamente política, religiosa, filosófica, panfletária, como ensaio, artigo, etc. Deve, evidentemente, possuir a beleza da correção e da clareza. Não mais lhe será pedido. A palavra literária, pelo contrário, não precisa (até pode) ser "correta" nem clara, mas tem de ser bela. Se beleza for considerada uma função, estará aí a única que se pede à literatura. A verdadeira literatura, como qualquer obra de arte, será ontologicamente crítica (engajada) e revolucionária. Dispensa da parte do autor a preocupação de sintonizá-la com o que quer que seja. Alguém cobra engajamento de uma rosa, a flor milenar, perenemente nova e surpreendente? Um livro "engajado", um teatro, que discutam, por exemplo, os atualíssimos temas da violência, da divisão de terras, da permissividade sexual, se forem má literatura e mau teatro, provocarão em platéia e leitores, bocejos e raiva. Porque, no fundo, são uma empulhação, uma coisa pseuda. Ao contrário, um texto verdadeiramente literário sobre "amenidades", como flor, nuvem, pode produzir em platéia e leitores de dura cerviz uma passeata ecológica para a defesa do verde, co/movidos unicamente pelo único argumento indiscutível, a Beleza, que atinge em nós regiões mais ricas e mais profundas que o raso nível da inteligência. Isto, sim, me deixa perplexa, o mistério, o instigante didatismo, a pedagogia formidável das obras verdadeiras. Creio que a fonte da Beleza é Deus, o que me dá um começo de explicação. O resto é literatura, obra humana, falível, com tal pobreza que até estilos tem. Salve ela! Vou parar porque sinto que começo a fazer literatura, quando me foi pedida uma resposta clara.
Adélia Prado

terça-feira, 1 de julho de 2014

O vazio e o pleno, de Vera Queiroz



O VAZIO E O PLENO
A POESIA DE ADÉLIA PRADO

Vera Queiroz


A Editora da UFG inicia, com O Vazio e o pleno - a poesia de Adélia, de Vera Queiroz, uma nova série de publicações para o selo da coleção Orfeu. O projeto da Coleção é de oferecer ao público interessado obras de alta relevância teórica, crítica e metodológica no campo dos estudos sobre a Literatura, que sejam resultado das pesquisas acadêmicas de ponta e reflitam a multiplicidade dos enfoques hoje vigentes na aproximação do objeto literário. Sua finalidade é a de expor a dinâmica dessas mudanças e contribuir para ativar a reflexão em torno dos discursos que compõem, em nossa contemporaneidade, o largo espectro das Ciências Humanas, em relações inter e intradisciplinares.

O livro de Vera Queiroz é resultado de sua pesquisa de Mestrado, desenvolvido na PUC/RJ e na UFRJ, e se constitui de uma leitura crítica e interpretativa acerca dos aspectos temáticos na obra de Adelia Prado, centralizada sobretudo nos livros Bagagem (1976), O coração disparado (1977), Terra de Santa Cruz (1981), O pelicano (1987), A faca no peito (1988). Nesse conjunto, a autora mapeia os temas que singularizam a produção poética da autora mineira na tradição da nossa lirica e a situam como uma das expressões mais originais surgidas nas últimas décadas no cenário da Literatura Brasileira, em especial porque, segundo as palavras da autora, tal poesia resgata o conceito benjaminiano de experiência ligada à comunhão e à funda cumplicidade com o homem e com sua existência concreta, tecida nas relações que os atos cotidianos geram. A obra se compõe de quatro capítulos-chave, correspondentes aos temas ali estudados.

Depois de uma Introdução , em que situa o modo como a poesia de Adélia foi recebida pela crítica literária de então, no capítulo dois - Intertextos: os poetas - a autora discute o diálogo que a poesia adeliana estabelece com seus pares, seja sob a forma de homenagem explícita (no caso de Guimarães Rosa), seja sob a forma de uma paródia que não deixa de ser também homenagem, como se dá com mais de um poema em que Drummond é tematizado.

Outras relações são estabelecidas com as poéticas de Fernando Pessoa, Murilo Mendes e Castro Alves. Em Resíduos: as palavras, a análise detém-se na compreensão do aproveitamento literário das formas de linguagem coloquial e popular, para captar o movimento original que a poesia de Adélia empreende no sentido de re-inaugurar e re-iluminar vocábulos gastos pelo uso, esvaziados de sentido, através do que se define como construções epifânicas, surgidas pela disposição nova da palavra, da sílaba, do som. Esse aproveitamento dos resíduos da linguagem, descrito minuciosamente nas análises feitas pela autora, constitui uma das linhas de forca mais originais da técnica adeliana e uma marca de sua poesia. O universo da província é analisado em Mínimos: as coisas, onde as ações cotidianas, os elementos naturais, o microcosmo das relações afetivas são percorridos de modo a situá-los como condensadores das grandes inquietações de espírito humano. Na poesia de Adélia, as leituras empreendidas aqui o revelam, a grande política se faz nos gestos mais comuns, as grandes questões já habitam o espaço da casa, do quintal, da rua, da pequena cidade. No último capitulo - Mitologias: Deus, tempo, memoria - é analisado um dos aspectos centrais do pensamento poético de Adélia Prado,
aquele que recobre todos os outros temas - trata-se do tema da religiosidade, cuja vertente é definida como a síntese entre os mitos de Deus e da poesia, esta última vista como a encarnação humana da palavra fundadora: a palavra divina.

Além de poder compartilhar as várias faces da poesia de Adélia Prado, apresentadas de modo cúmplice e enriquecedor, o leitor encontrara nesse lançamento da Editora da UFG inúmeras indicações para uma metodologia de leitura. 

(Orelha do livro)